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05/03/2021 14:20

O Pantanal, a seca e ciência

O Pantanal, a seca e ciência

                Manoel de Barros escreveu em seu poema Carreta Pantaneira “Dez anos de seca tivemos. Só trator navegando, de estadão, pelos campos. Encostou-se a carreta de bois debaixo de um pé de pau. Cordas, brochas, tiradeiras com as chuvas, melaram”. O trecho descrito, retrata a seca que afetou o pantanal na década de 60 e início da década de 70.  Alguns ciclos hidrológicos possuem a dimensão anual, como é o caso das estações do ano, outros ocorrem com um intervalo maior, de alguns anos, como El nino e La nina, outros em décadas, séculos ou milênios.

                Os estudos científicos são fundamentais para entender esses ciclos que ocorrem no nosso planeta. São ainda mais importantes para discernirmos o que é e o que não é um impacto das ações humanas e sabermos como dar a reposta correta para fatos que impactem a vida e o meio ambiente.

                A seca no Pantanal vem sendo discutida de forma intensiva desde o ano passado, quando queimadas afetaram mais de 23% do bioma. Nos últimos meses a seca na Baia de Chacororé marcou o debate político e ambiental no estado de Mato Grosso. Nem mesmo as chuvas de verão, conseguiram fazer a situação voltar à normalidade, acendendo o sinal amarelo em relação a estação de seca de 2021. Porém, qual o real motivo para a crise hídrica que vivemos? Será resultado da ação humana, ou uma repetição de um ciclo hidrológico de estiagem, similar ao que ocorreu na década de 60? Talvez pode ser o efeito de ambos. Mas só poderemos ter uma resposta concreta com estudos adequados.

                O desenvolvimento de pesquisas científicas é fundamental para encontrar respostas para questões como a apresentada no parágrafo anterior, ou sobre outros temas relevantes para sociedade. Porém a realização de pesquisas precisa ser amparada por políticas de fomento, que em geral no mundo, são incentivadas pelos governos por meio de disponibilização de editais e convênios. A Fundação de Amparo a Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) foi criada com esse propósito, mas infelizmente não tem feito seu papel. Presidida por alguém sem nenhum histórico como pesquisador, e com poucos editais e linhas de ações disponibilizadas, a instituição deixa desejar. E para piorar, no cenário nacional a redução dos recursos para pesquisa realizada no Governo Bolsonaro joga uma pequena pá de cal na pesquisa e desenvolvimento no país.

 

                A seca é apenas um dos problemas existentes no estado de Mato Grosso. Queimadas, alagamentos, inundações, erosões e outros processos de dinâmica superficial afetam a vida dos mato-grossenses anualmente, e causam dados ambientais, sociais, econômicos e até mesmo óbitos. Os impactos destes processos poderiam ser minimizados ou evitados, caso o estado adotasse uma política de gestão de informação e desenvolvimento de pesquisa científica, como é existe em outras partes do país e do mundo.

                Investir em informação significa economizar recursos públicos em obras e serviços, assim como ampliar a qualidade de vida das pessoas. Porém parece que conhecimento não é prioridade para o governo estadual ou federal. É preciso mudar essa lógica, ciência deve ser feita a todo tempo, pois somente ela é capaz de garantir o desenvolvimento do país e das pessoas que nele vivem. Caso contrário o Brasil vai continuar sem conhecer direito seu próprio território, e dependerá cada vez mais de tecnologias produzidas em outras partes do mundo. E essa conta não sairá barata.

                É preciso conhecer as causas desta estiagem no Pantanal, precisamos saber a melhor forma de lidar com esse problema, que pode durar alguns anos. Se existe preocupação por parte da sociedade e de gestores públicos com esse tema, a primeira resposta a se obter é sobre os reais motivos para a crise hídrica que afeta o este importante bioma. Somente estudos podem fornecer as respostas que precisamos. A partir deles saberemos como tomar as medidas mais assertivas.

Caiubi Kuhn

Geólogo, especialista em Gestão Pública e mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT);

Docente da Faculdade de Engenharia UFMT-VG;

 

 


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