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07/06/2020 18:42

NOTA DOS MOVIMENTOS NEGROS DE MATO GROSSO

 

 No dia 04 de junho de 2020 às 18h pelo Google Meet se reuniu entidades de movimentos negros de Mato Grosso a convite do Coletivo Negro Universitário da UFMT para tratar das seguintes pautas: Movimentações Negras em Mato Grosso no momento de pandemia: Enfrentamentos à acentuação do racismo e proteção da Fundação Cultural Palmares.

Contamos com as seguintes entidades na reunião: Associação dos Senegaleses do Estado de Mato Grosso - ASSENMAT; Associação de Defesa dos Haitianos Imigrantes e Migrantes em Mato Grosso - ADHIMI-MT; Associação da Comunidade Negra Rural Quilombo Ribeirão da Mutuca - ACORQUIRIM; Coletivo Negro CorAgem - UFMT Campus Barra do Garças; Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres; Coletivo Negro da Psicologia KilomboCassangue; Coletivo Negro Audiovisual Quariterê; Conselho de Política de Ações Afirmativas da PRAE - CPAA UFMT; Conselho Estadual de Promoção à Igualdade Racial - CEPIR-MT; Comissão Estadual de Defesa da Igualdade Racial - OAB/MT; Comissão de Relações Étnico-Raciais do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso; Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso - IMUNE MT; IlèOkowoòAsèYaLomin’osà - EgbeOmorisaSango; Nova Frente Negra Brasileira - Juína/MT; União de Negros Pela Igualdade – UNEGRO.

             Abaixo segue arte e texto resultados da reunião de deliberação online:

 NOTA DOS MOVIMENTOS NEGROS DE MATO GROSSO

Vivemos um momento de grande tensão na sociedade brasileira. Para além de vivermos em meio a maior pandemia do século XXI, de termos que enfrentar desigualdades sociais estruturantes da realidade brasileira, ainda é preciso aprofundar resistências a um governo que abertamente defende o genocídio de sua população, especialmente negros (as), indígenas e pobres.

Nós negros (as) não queremos e nem esperamos nenhuma benesse de governos, na condição de 54% da população brasileira (Dados do IBGE, Censo de 2010) exigimos que se façam valer os princípios do Estado democrático de direito instituído pela Constituição de 1988. Sem as garantias mínimas afirmadas na Constituição da República Federativa do Brasil é impossível não afirmar que estamos diante de um governo genocida, que elege como prioridade manter os lucros de pequenos grupos da elite brasileira, em detrimento da morte generalizada da população mais vulnerável, especialmente os negros (as) e indígenas.

O governo Bolsonaro repassou cerca de 1,2 trilhões de reais como subsídio para salvar bancos, enquanto que apenas 160 bilhões para as estratégias de enfrentamento à pandemia, e desse total só 30% foi aplicado até o momento, mesmo o Brasil já sendo o epicentro da pandemia a nível mundial. Percebe-se que ao relegar a segundo ou a nenhum plano os cuidados mínimos com a população brasileira é inegável que estamos diante de um governo que promove a necropolítica em nossa nação, revivendo profundamente todas as consequências das relações escravistas e coloniais, não superadas no Brasil.

As violências raciais no Brasil vêm de longas datas, desde que foram aportados os primeiros carregamentos de negros (as) na condição de escravizados, lá pelos idos de 1.539. A diáspora negra fez com que mais de 10 milhões de africanos aportassem nas terras brasílicas na condição de máquina com fôlego (escravizados) e nessa condição demos o rosto para esta nação: rosto preto, rosto africanizado, rosto do trabalhador (a), rosto que luta, rosto da organização. Nunca e jamais esperamos e esperaremos benesses governamentais ao nosso povo, mas com luta e organização sempre exigimos respeito e direitos, que na grande maioria dos governos foram-nos negados.

Na atual conjuntura, o que percebemos é o total descaso por políticas públicas e sociais que garantam minimamente à população brasileira em geral, e a nós negras e negros em especial, esperançar e viver com qualidade: são cortes profundos às verbas das universidades, descaso total à população quilombola e indígena, desrespeito aos Povos Tradicionais Praticantes de Religiões de Matriz Africana e Afrobrasileira, tal como exposto na fala do Presidente da Fundação Cultural Palmares (Sérgio Camargo) o qual afirma categoricamente “ Não vai ter nada para terreiro, enquanto eu estiver aqui dentro, zero, nada. Macumbeiro não vai ter um centavo”.

É por esta análise, em que de modo correlacionado se aprofundam a necropolítica e os ataques à democracia, que viemos a público ressaltar que as entidades que aqui representam movimentações negras em Mato Grosso reafirmam seu compromisso na luta antirracista.

A organização do movimento negro brasileiro e em Mato Grosso se expressa nas mais diferentes táticas: de combate à política de morte e fome, com ações de arrecadação de alimentos, orientações de prevenção e combate ao avanço das contaminações do COVID 19, proposições e formulação de políticas de acesso e permanência no sistema educacional, combate ao racismo religioso, luta pelo direito à terra, dentre muitas outras formas e pautas. Temos a consciência de que o racismo estruturando o sistema capitalista e colonial coloca negros (as) e indígenas na linha de frente do extermínio no acirramento da luta de classes. Somos a maioria da população brasileira que sobreviveu e sobrevive resistindo bravamente pela força dos nossos laços comunitários, pela força da nossa sabedoria ancestral, é por toda a nossa história que também é a história de resistência e construção desse país que se faz necessário afirmar que nunca deixamos de lutar, porque à nossa própria existência subjaz a necessidade da auto-organização.

A participação em atos de rua representa um risco indiscutível de contágio pela COVID 19 para o grupo que sempre esteve em situação de vulnerabilidade, a população negra. No entanto a necessidade de protestar contra o racismo, o fascismo, a fome são ações legítimas e o movimento negro matogrossense representado pelas entidades que subscrevem esse documento, presta o seu profundo apoio e solidariedade aos atos nacionais e locais que tomam as ruas nesse domingo.

“[...] no fundo, o que não perdoa a Hitler não é o crime em si, o crime contra o homem, não é a humilhação do homem em si, é o crime contra o homem branco, a humilhação do homem branco e o ter aplicado à Europa processos colonialistas a que até aqui só os árabes da Argélia, os <> da Índia e os negros de África estavam subordinados” (CESAIRE, 1978, p.18)

 


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